29/06/2016 Geral

A Cavalgada da Revolução Mexicana

Fotos Elton Saldanha Divulgação
Fotos Elton Saldanha Divulgação

Elton Saldanha Jornalista, músico e tradicionalista


Em fevereiro, os Cavaleiros da Paz (grupo criado por Antonio Augusto Fagundes em 1990) empreenderam uma aventura equestre no coração do México colonial, cavalgando por paisagens do Oeste, passando por fazendas do século 16 e 17. Charros (cavaleiros mexicanos), cavalos astecas, músicos mariachis, tequila, cactos, aldeias coloniais, festas e a deliciosa cozinha mexicana, não faltou nenhum ingrediente mexicano nesta viagem equestre única!

No dia 1º de fevereiro partiram de Porto Alegre os Cavaleiros da Paz, Embaixadores da Cultura e do Folclore do RS, conforme certificado pela Secretaria de Cultura do Estado, confraria de equitação e viagens equestres que há 26 anos encilha visitando países que tenham história e identidade da cultura dos cavalos. Desta vez, o destino foi o México. Na capital mexicana os Cavaleiros da Paz se reuniram a outros gaúchos que lá estavam para uma produção de vídeos culturais: Bagre Fagundes, Ernesto Fagundes, Renê Goya, Rafael Berleze, Eduardo e Aquiles Pes. Visitaram os pontos tradicionais e turísticos, dando uma cruzada cultural pela noite. Estiveram na Praça Garibaldi, onde fica o museu da Tequila, e os bares, onde se escuta a vibrante música executada pelos mariachis.

Foram recebidos também com muita distinção pelo Exmo. Sr. Enio Cordeiro, Embaixador Brasileiro na cidade do México, homem de linhagem e muito conhecimento.

O passeio cultural contou ainda com uma visita às pirâmides do México, as famosas pirâmides do sol e da lua, que se encontram a 50 km ao norte da capital, em Teotihuacan, cujo significado é "o local onde os homens se tornam Deuses". Após este roteiro histórico, visitaram o Rancho La Bisnaga, de propriedade do Sr. Pablo Cerón González, um Charro de muita fidalguia e cultura da equitação mexicana. Em seu rancho, mantém com sua família uma equipe destacada no México em competições de “Charreadas”, sendo uma das 20 melhores equipes, entre as mais de 1300 existentes no país.

Os Cavaleiros também assistiram a exibições de laço, domas, gineteadas, pealos e o famoso “passo de la muerte”, uma das nove provas de Charreria, onde o ginete precisa passar da montaria do seu cavalopara outro chucro e, em pelo, enquanto os mesmos correm amadrinhados no redondel da arena. Após a apresentação dos Charros, os gaúchos foram recepcionados na casa do anfitrião para uma confraternização, onde foram apresentados ao melhor da culinária mexicana.

No fim de tarde aproveitaram a viagem para conhecer o Santuário de Nossa Senhora de Guadalupe, que fica localizado no monte de Tepeyac, na Cidade do México, um lugar de historia e fé.

Após a estadia na capital, os Cavaleiros rumaram para a Serra Central, local de saída da cavalgada. No caminho, uma volta ao tempo da Revolução Mexicana e da Rota da Prata Espanhola, seguindo os passos do herói revolucionário mexicano Pancho Villa, e descobrindo um

México verdadeiro e autêntico. Ao chegar em Guanajuato, um estado tradicional da cultura vaqueira e também o berço da independência mexicana, foram recebidos por charros (cowboys) locais vestidos a caráter, que emprestaram seus cavalos e os acompanharam em uma viagem inesquecível dentro da história e da cultura rural mexicana. Após a chegada a cidade em Guanajuato (cidade com o mesmo nome do Estado), passaram a noite num hotel colonial, localizado no colorido centro histórico. Visitaram a pitoresca cidade onde foram imediatamente cativados pela atmosfera mexicana. No dia seguinte, foi o momento de conviver com os Charros. Grandes e confortáveis selas mexicanas foram colocadas nos cavalos Quarta de Milla e Aztecas. A cavalgada começou em Guanajuato e terminou uma semana depois em San Miguel de Allende. Seguindo a antiga rota da prata da Coroa

Espanhola, cavalgando por fazendas coloniais. Buracos de balas nas paredes testemunham os tempos turbulentos da revolução.

Junto com os Charros, os Cavaleiros atravessaram montanhas, campos ondulados e vastas pradarias com enormes cactos, descobrindo a vida rural do México. A

cada noite uma nova fazenda ou propriedade, onde o relógio parou no tempo. Quartos com mobílias antigas, pátios grandes e belos, cozinhas onde “mamita” prepara os pratos mais incríveis nos potes de barro. Comer no México é como uma viagem para o seu paladar! Desde os clássicos tacos, tortillas, frijoles, burritos, guacamole e uma gama improvável de molhos de pimenta e nopales (cactos), cozidos, grelhados ou crus, em saladas.

Também beber no México é de um calibre totalmente diferente. Tequila,margarita e cerveja Corona todos conheciam, mas beber uma “michelada”, um chope com molho  inglês, limão, sal e tabasco, foi uma novidade para a gauchada, que na lista de preferência radical se agradoumais do mezcal com gusano.

O primeiro dia de campereada foi em Leon, Guanajuato, no dia 05 de fevereiro. Nossos guias foram Angel Gutierrez e Paul Coudenys, este último um cavaleiro da Bélgica que hoje reside em Camboriú e adotou a alcunha de “Gaúcho do Brasil”; eles foram os responsáveis pelo nosso roteiro e se mostraram muito competentes com cavalos e com uma estrutura de muita qualidade

para nossos acompanhamentos. Com suas belas construções coloniais e da presença da cultura indígena e espanhola, esta cidade é considerada a mais bela de México.

Em 1988, a UNESCO declarou a cidade de Guanajuato como patrimônio histórico da humanidade. As ruas são subterrâneas, utilizando túneis das antigas minas de prata desta região, que já foi o maior centro mineiro de prata do mundo.

De Guanajuato foram para Santa Rosa pela "Sierra Central". Uma região montanhosa, uma vila situada no coração da Serra, a uma altitude de 2.850 m, onde esta é a velha "Estrada Real". Viajaram atravessando belas paisagens, sendo que o pouso aconteceu no topo de uma montanha, num recanto rural muito aconchegante.

Faz muito frio, nesta época, as temperaturas variavam de -5°C à noite, até 25°C durante o dia, por isso tiveram que tomar uma tequila.

Foram convidados alguns músicos da região, só veteranos, repertório clássico, gaita e violão, num galpão rústico ao velho estilo gaúcho. Cedito, depois de um mate, os Cavaleiros encilharam os pingos, fizeram uma oração e se foram de novo pelas serras de Guanajuato.

O destino era a hacienda El Gallinero, do ano 1709. Uma fazenda com histórias de paixão, vingança, tesouros escondidos, túneis secretos, amor, traição e revolução. Ali o Padre Miguel Hidalgo escondeu, com a permissão do Conde Canal, as armas que foram usadas na luta pela independência contra os espanhóis em 1810. Um século mais tarde, quando Pancho Villa decidiu acampar ali durante a guerra, de forma inesperada, em Dolores Hidalgo, os proprietários decidiram hospedá-lo em vez de combatê-lo. Graças a isso a propriedade foi salva, preservada e segue intacta até

hoje. Que lugar bem lindo! De manhã tiraram uns retratos e partiram rumo Dolores Hidalgo, onde os aguardava um grupo de Charros, gente dos arreios, com lindas indumentárias mexicanas. Desfilaram na cidade e foram muito bem recebidos pelas ruas onde cavalgaram, aplaudidos até a chegar a Igreja, lugar histórico e marco da Independência, onde o Padre Miguel

Hidalgo deu o grito de liberdade e partiu dali para guerrear com os espanhóis. À noite fizeram uma confraternização e até um bailecito pueblero!

As Adelitas são mui lindas! No dia seguinte, foram capa do “periódico” (jornal) local, onde se destacava um retrato dos Cavaleiros e um pouco da história do grupo. A cavalgada partiu em direção a Atotonilco.

No caminho, muitas capelas e antigas igrejas, pois este é um país com massiva adesão à religião católica. Aoentardecer chegaram a estalagem Parador El Cortijo, com uma piscina

de águas termais. “Bueno, tivemos que aproveitar esta mordomia!”. De Atotonilco foram em direção a San Miguel de Allende, cidade belíssima,tombada como patrimônio histórico pela UNESCO. Pelo caminho muitas plantações de cactos, planta que é sagrada e serve para produzir água, alimento para o gado,fibras para costura, os laços dos vaqueiros e, até mesmo, ser assado e servido com carnes, sendo utilizada ainda para produzir o Mezcal, uma tequila rudimentar e tradicional. À noite chegaram a uma hacienda antiga e linda, La Cieneguita, e fizeram o brinde dos Cavaleiros com a equipe que os acompanhava.Também foi feita a outorga de reconhecimento a todos que participaram desta cruzada histórica com os Cavaleiros da Paz. Em 12 de fevereiro, fizeram um passeio pela periferia da cidade e a tarde se despediram dos cavalos, momento sempre emocionante. À noite um churrasco a moda gaúcha no terraço da pousada. O local proporcionava uma linda vista para cidade, iluminada e encantadora, onde foi gravado o filme El Mariachi, com

Antonio Banderas, que, segundo dizem, tem uma residência ali.Estiveram presentes nesta cavalgada:José Antonio Castro de Castro (Presidente da Confraria), Elton Saldanha (Comandante da Cavalgada no México), Maurício Junqueira, Antônio Brocker Junqueira, Helder Menezes, Ricardo Menezes,Bruno Leão, Mauro Crespo, Roberta Campos, Simone Catallan, Suzana Poletto, George Firmino, Kayan Firmino, José Acir Giordani, Gabriel Giodani, Fernando Bonorino, Larry Beltrame e Carlito Bicca.

Um brinde aos cavaleiros da tribo do pé no estribo por mais esta viagem de grande intercâmbio cultural,cumprindo a missão de irmanar povos distantes sobre o lombo do cavalo. Arriba Tchê, Cavaleiros da Paz!

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