17/07/2017 Geral

Cavaleiros da Paz encilham os Cavalos de Paso do Peru

Foto: Eduardo Rocha

Por Elton Saldanha, músico, jornalista e cavaleiro

O grupo de cavaleiros viajantes criado por Antonio Augusto Fagundes nos idos de 1990 - que já percorreu a cavalo países como Paraguai, Argentina, Uruguai, Chile, Bolívia, Portugal, Espanha, África do Sul, Canadá e Mongólia - este ano foi encilhar no país da cultura Inca e conhecer os Cavalos de Paso do Peru.

Em 23 de fevereiro desembarcaram em Lima, onde conheceram uma das mais lindas cidades da América Latina, seu artesanato em prata, sua culinária e o Bairro Miraflores, debruçado na Orla do Pacífico num pôr-do-sol deslumbrante. No dia seguinte, teve início a cavalgada na periferia da Capital, no bairro Lurin, com recepção do casal Guillermo More Sanguineti e Claudia Arbulú Smet, da Cabalgatas del Peru, que guiaram os gaúchos e gaúchas pelo litoral do Pacífico; uma paisagem de encantos nas revoadas de milhares de gaivotas, que tornaram o início do roteiro inesquecível.

Após a viagem pela beira mar, o grupo passou por um deserto chamado Pachacamac e de lá seguiu para uma propriedade de criadores de cavalo de paso peruano, a Hacienda Los Ficus, uma fazenda modelo, referência em turismo e cultura no Peru, de propriedade de Elsa Abad de Puga. Ali o grupo conheceu a história do cavalo oficial do país, além de provar a hospitalidade e a saborosa comida elaborada pela proprietária. Ainda na capital peruana os cavaleiros Elton Saldanha, Toco Castro e Eduardo Rocha foram convidados pela Embaixada Brasileira no Peru para ministrar palestra sobre a cultura brasileira e gaúcha para alunos peruanos.

De Lima, os Cavaleiros voaram para Juliaca e depois rumaram para Puno, a 3.850 metros acima do mar. É preciso usar oxigênio na chegada ao hotel, um chá de folha coca é fundamental. Em Puno o roteiro é deslumbrante: visita às ilhas flutuantes de Los Uros, ilhas artificiais construídas com o junco chamado totora, localizadas sobre as águas do Lago Titicaca, na divisa entre o Peru e a Bolívia. À tarde, cavalgada com destino a Fundo Chinchero, sendo que o guia Marco nos leva de sua fazenda até as margens do Lago Titicaca. Exploramos caminhos novos e chegamos a uma parte superior que nos permitiu uma vista única do lago. Além da vista envolvente, a hospitalidade e a culinária são marcantes na cultura deste país. 

A viagem dos cavaleiros rumou para o centro do Império Inca, Cusco (umbigo do mundo em Quechua), a cidade sagrada, onde pudemos conhecer a história da mais avançada civilização da América do Sul, um império que dominava a Cordilheira dos Andes e que se expandia pelos territórios de Equador, Bolívia, Peru e Chile. As construções de pedra, praças, catedrais, todas em um entalhe perfeito e artesanal que resiste ao tempo, sem contar a diversidade de cereais e frutas: somente de batatas, existem 3.500 tipos.

 

Os espanhóis chegam a América do Sul em 1942 e, devido a conflitos de interesses entre os Incas, conseguiram dominar este império. Tentaram destruir e arrasar este império, mas o que mais se destaca neste ambiente são revelações que fortalecem a história deste povo, sua dedicação à terra. Qualquer pedaço de chão, vale ou montanha, tem sua pequena produção; o Peru fez na década de 70 uma reforma agrári, sendo que a produção da comunidade se mostra com ótimos resultados.

Os cavaleiros gaúchos encilharam também com Albizú Segovia Torres, do Rancho Apupacha, no distrito de Maras, onde enfrentamos muitas chuvas e trovoadas. Em todos os trechos os cavalos foram a grande referência: lindos pingos, montarias a capricho, selas ótimas e aperos de luxo. Levaram ainda um muar, o tal de Juanito, rebelde e ‘veiaco’, que em apenas um dia desmontou o ginete peruano pelo menos umas três vezes. O dia foi se revelando pelo vale sagrado, as montanhas ao redor são adornadas de nuvens e picos nevados. O acampamento é às margens do Lago Huaypo, onde, ao estilo gaúcho, se fez um churrasco ao redor do fogo de chão. 

Lugares lindos e históricos, minas de sal, rios, comunidades antigas e a cavalgada chega ao  setor de “Qolqas”, o grande ponto Inca de Ollantaytambo. Agora é hora de pegar o trem em direção a Aguas Calientes e aproveitar um banho de águas termais rente ao rio, na borda de uma montanha; depois de dias subindo e descendo as encostas de pedras é hora de relaxar. Pela manhã, Marco Antonio e Felipe Huanca, os  guias peruanos que assessoram a confraria dos cavaleiros, auxiliam e orientam para que os viajantes cheguem cedo a Velha Montanha de Machupicchu; são 6 horas e é preciso torcer para que as nuvens e a cerração dissipem e apareça o monumento histórico das ruínas mais famosas da América. O grupo se deslumbra e é feito um mate para brindar este momento de emoção dos Cavaleiros da Paz. 

A volta de trem é comemorativa por mais um feito de registro histórico para os gaúchos. O dia seguinte ainda traz um acontecimento cultural relevante para a despedia destes guapos do Rio Grande do Sul, o carnaval de rua de Cusco, expressão da comunidade simples e humilde numa festa colorida e expressiva em sua musicalidade. É notável a originalidade de tudo o que se vê - instrumentos musicais, quenas e samponhas, sikuris, roupas e adornos - e uma emoção em cada nativo que passa cantando.

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